A bala perdida - Você me ensinou a escrever

agosto 27, 2017

A bala perdida


Gostaria de não buscar definições, ou não querer entender tudo. Ora suplico pela compreensão, ora suplico pela isenção do entendimento. 
Inferno... 
“Qual o nosso objetivo em entender tudo?” pergunta Godard (de novo) em Pierrot Le Fou. E eu volto novamente no tempo, já que acabamos girando a mesma roda, em outros tempos, nos mesmos erros. O sonho daquela menina que queria e não casou... a mãe que não sorriu, o amigo que se matou... 
Desejo? 
Vivo oscilando entre o saber e a ignorância. Suplicando por uma fonte de prazer que não envolva dor tamanha. Não sei se passageiro como a vida, mas, passagem só de ida, e a demora de ficar lá... nos braços de alguém, ou no útero múltiplo do universo. 
Confuso? 
Dizem isso dos mecanismos de transferência, essa necessidade humana intrínseca de viver sob e sobre outro ser humano. Transferência essa que decide tudo, que delimita e que de tão grande, vacila, porque não cabe ela, toda crua. Ouço, chorando, tanto o Otto como a Dona Cila. 
Das inúmeras decisões do dia-a-dia, desde o alho e a cebola pra cortar, até a tentativa de suicídio daquela velha madrugada, onde se mata à facadas as camadas da cebola que se formou, mesmo a cantarolar. 
Tudo dói, tudo menos a dor que corre, leve e solta, ela dança enquanto canta a cantiga de ninar. 
Paraíso? 
É um peso grande carregar as contas desse sistema para pagar. E os carros em demasia, correndo e correndo, indo pra nenhum lugar... 
Eu e você, andando em círculos. Mudos, cegos, e surdos, sem sentido, sem recurso, muito esforço. Mundo vagabundo! 
Não devemos nem estranhar que num ato de carência surgimos, e seguimos, carentes, indecentes, inconsequentes. Pois, que a inconsciência me ganhe, já que consciente me amaldiçoei de todo. Que as partes sadias de mim não morram, ou morram sem histórias pra contar. 
Que uma bala me arranque o peito, mas eu não veja minha mãe chorar. Posto que é chama que arde o peito, e não para, não quer parar. 
Mas o ombro chora mais, mãe, gritou o poeta. O ombro chora, eu não posso chorar. Que a bala me erre, não me pegue, que hoje é dia em que eu faço o jantar.

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