“Eu tenho medo do
medo que as pessoas têm”, ele canta numa voz calma e nada melancólica,
descontraída, mas, provavelmente contida de desejo. Liberdade.
Eu
canto melancólica, e tenho medo do medo que temos de nos entregar.
Já
discuti com muitos amigos anteriormente sobre essa impossibilidade de se entender,
e sobre a impossibilidade que isso gera nas nossas relações, produtos internos
do mundão. O que será que corta o diálogo? Será o grito, o choro, o amor? E se
não há grito, choro, ou amor, por que é que as pessoas calam? Será medo? Medo de
amar? Medo de entregar os pontos? Medo da loucura cessar?
Não
há como saber sem tentar. A menor palavra, se se conhece o lugar que ataca,
gera o princípio motivador. E a gente fala, e o conflito existe, e a gente se
desentende, mas a gente compreende que é possível se entender. Se há chance. Se
há chance da coragem de despir-se valer.
Fica
difícil despir-se dos corpos e juntos formarmos elos sem o mínimo do esforço
comunicativo. Por que será que há tanta ausência e indiferença na contagem das
cartas sobre a mesa? Por que será que todos jogamos, mas não somos capazes de
abrir o jogo? Eu diria que com os jogos abertos abrem-se mais portas que nossa
capacidade humana é capaz de mensurar. Abrem-se os olhos, abrem-se até as
pernas, não só para a valsa, para o desejo de cuidar, de lançar-se na alma nua
do outro, no corpo quente, na união de toda gente.
A
relação dialógica é assim. Sem excessos e manias. É de tempos incertos, a gente
sabe, e devemos saber que não há lugar para utopias. É fácil quando não se tem
medo. Compreende-se no ato de entregar-se, sem competitividade. Não há maneiras
de resolver se não me contas, se a mãe não dá bronca, se o filho não está lá
para ouvir. É preciso discernir o descaso do descanso do porvir.
Esse
medo jogado nas relações líquidas nos acostumaram com o susto. Assusta qualquer
gesto, qualquer modo de agir nosso e do outro. Como se constitui uma relação assim?
O desconforto é causado pela pura insegurança do murro que o outro tem para
dar, mas é aí que está: e se outro não tem guardado murro nenhum? E se
desfez-se os muros que criamos em segregação? E se nos desfazemos no velho “não”?
Nem
sempre precisamos de respostas, eu sei. E o silêncio é até uma delas. Mas
haveremos de entender que certas inconstâncias e dissonâncias não constituem
pontes e conversas, perfazem abismos, constroem promessas, promessas impossíveis
de cumprir.
Eu
tenho um medo, maior que todos esses relacionados a sentir e se entregar. É o
medo da impossibilidade que a gente tem de se escutar.
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