I - Resto
Para eles só ficou a lástima
Do pouco que sobrou
Restou a pálpebra pesada
O vinho que não se quer mais beber
Para eles só restou a dança que não dançaram
O amor perdido, roubado
O samba canção que não se sambou
Para eles nada sobrou
A não ser a lástima
O mundo cruel
Terra sem céu
A existência sem calor.
II - Lástima
Percebo, então
Que criaram-nos para lastimar
Lastimaram o que é nosso
Sabotaram cada canto denso do nosso lugar
Ensinaram sem cessar
O caminho a seguir
A qual deus louvar
Mas nunca ensinaram a cantar
A dançar nossa própria música
A dar glórias a nossa própria glória
Não temos nosso próprio credo
E nosso credo é o medo de nada restar
Nada restar, como nada restou para eles
A não ser a vida tardia
O trabalho pesado
O esforço louvado
Sem reforço, sem compaixão
III - Redenção
Nós não!
Queremos de volta o nosso som
Nossa paixão
As horas desperdiçadas
As vidas bem vividas
Bem-amadas
O nosso colchão
Sujo do amor
O amor em questão.
Já basta de solidão
De beber para esquecer
De esquecer de viver
De esquecer-se de ri
Não lembrar-se de si
O amor é pra mim, o amor é pra ti
E a lástima não deveria ser
Nem para mim, nem pra você
Nem para eles
Senão um instante
Apenas...
Um morrer
Morrer de vontade de viver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário