Os olhos numa tela, a era dos dezenove em guerra - Você me ensinou a escrever

março 16, 2017

Os olhos numa tela, a era dos dezenove em guerra

Frida

Vinte anos ou em anos, dezenove? 
Quem sabe ou imagina o que envolve
Correr contra o tempo ignóbil
Enquanto teu corpo se dissolve? 

Já não sei se é meu corpo que corre
Ou se limita-se diante do coração que dorme
Já não sei se é o corpo que dorme 
Enquanto o coração se põe a correr

Hoje ao me lembrar dos meus vinte anos
E por dezenove anos ter me perseguido
Não quero mais correr
Não quero mais esgotar o corpo no trabalho árduo 
Do cálculo sem querer

Eu quero viver. 

Na hora do descanso
Um café preto.
Um pingado quente
Para afagar a dor
Para acalmar a mente.

E o universo inteiro...

Pois se eu canto o dia inteiro
É por poder simplesmente parar
E olhar, sentir e ousar
Cada momento como um único calar

Cada centelha do dia que temos de levar
Cada qual sozinho e único sem hesitar
Sem pensar no que há mais para fazer
Às vezes não é tanto
Às vezes nem se cansa

O que cansa é pensar
A todo momento
Criar uma dor que não cessa
Que não sossega, que não deixa em paz

Aliás
Por que criar a própria dor 
Se podemos nos criar, criatura? 

Aos vinte anos a criatura não atura mais
A dor dos dezenove a lhe perturbar
É hora de recomecar
E o próprio aconchego do pingado incorporar

Sem cálculos
Acordo prévio
Sem tédio
Sem soluços
Ou lágrimas.

Só ficando então: 
o doce e presente cantarolar

Dos cegos
Aqueles que vivem em paz
E caminha com amor
Para reparar nos detalhes 
E até na beleza da dor

Então, em vinte anos por que lamentar?
Foram dezenove dum louvar interminável
Por isso se estou cansado
Não é pelo caminho árduo ou pelo árduo caminho que hei de vagar...
É pelo tanto quanto que vivi e dancei no meu congá

Rodei a baiana, dei nó nas cadeiras
Pulei na banheira, me assustei com o pregar dos pregos
Fui sempre sincero
Morri nos inícios semanais
Deitei e dormi em paz

Sonhei com pássaros ébrios
Amei como amam os palhaços velhos
Amei como Pierrot
Um pouco de Colombina ficou em mim
E desta poesia prevaleceu de novo o ardor
A esperança de um novo amor sem fim

O sexo que se tornou universal
Minhas fotos no jornal
Ou não? 
Mas ainda deve haver mais vinte anos por aí
Um outro carnaval

Já que muitos já dancei
Esperneei
Quebrei pescoços e costelas
Parei defronte às janelas
Um tolo a esperar

Admirando cada folhagem esverdeada
Amarelada, vermelha ou azul
Cada tom do mundo triste em blue
Ou red pulsando no coração

Eu cai no colchão
Cheia de um orgasmo quente e penetrante
Com os nervos dançantes
Em expansão

Pulei no palco
Pulei no chão
Conheci ídolos
Discuti com amigos
Peguei na mão

Eu não me canso não
Foram dezenove anos de paixão
E ainda são

Rumo aos vinte que vem por aí
Cheios de ternura a emergir
Dores que estão de vir
Ou não. 

O que realmente importa
Chama-se ser-aí e vir-a-ser
Eu, ela, tu ou nós
Grito de peito aberto na porta
Ou choro num contraído peito, solidão.

Não dá para prever não. 
Não tem termo de comparação.
A vida não permite ensaios
{Não há raio antes do trovão}.


poema de aniversário - 16 de marco de 2017

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