Que venha a primavera - Você me ensinou a escrever

julho 12, 2017

Que venha a primavera


I – O sinal na porta

E quando você está a poucos metros do destino in-esperado
Uma casa, um portão, um amor, logo ali...
Mas você não bate à porta.
Sequer tira os pés do lugar.
Não pode, e não deve tirar.

Ao menos é o que os sinais mal pagos
do universo devem estar tentando dizer.
E aliás, ando de saco cheio dessa história de sinais
Acho que o ser humano vê o que quer ver mesmo
Deve ser.

Se os sinais estivessem corretos
algumas respostas teriam chegado
Ou vindo de outra forma

Mas não,
os sinais sempre vieram desacompanhados,
ou minha interpretação foi suspeita
Todavia, a ausência foi sempre posta.

Daí, então, comecei a ver sempre
o que não quero ver
Fica mais fácil colocar os pés no chão
Só que o peso é maior
E a desistência in-calculada
Dá o lugar da leveza ao sofrer.

Mas a leveza deve voltar, uma hora ou outra
ela volta.

II – Um dia de domingo

Contei todas as vezes em que estive perto.
Senti até mesmo os passos andados neste velho chão
Pois, talvez seja o mais próximo que já estive
Respirar o mesmo ar
Pisar o mesmo chão.


O coração chegava a acelerar quando alertava,
o ônibus, a chegada na cidade
A busca incessante em cada carro que passa
Em cada vidraça de janela
Em cada canto do universo, e desse pedaço de terra, suspira tua alma.

[Provavelmente num quarto fechado como eu, choras]

E sonha com o corte final
O fim da sociedade do espetáculo
O amor sem proteção
A chama que nunca cessa.

Sonha como eu sonho
Com o batimento cardíaco ajustado
Sem excessos
Sem censura

Amor, privilégio,
A ternura da loucura.

III – Reflexão

Sinto-me num ar etéreo
Três metros acima do céu
Sozinha
Falando e ouvindo para e todos os lados,
e todos os lados se ausentam, e eu fico.

Fico a atirar para longe todos os lados,
e chamá-los de meus, e chama-los pra perto
Eu quero então, o etéreo
Quero o inferno.

Saciar e fazer de sangrias coaguladas as dores do meu peito
Surfar nas ondas de minhas lágrimas
Deitar regressa, no meu caixão
Morrer de solidão.

A solidão que busca, infinita e perdida,
finita, sua jornada acaba num borrão.
O borrão que ficou nos olhos
cheios de vontade de amar.
Do desespero de amar e,
pensar que nunca amou.

Um borrão pela ausência dos feridos
que se foram e
ferida me deixou

Ferida essa que não é curável
Não se elimina
Não cessa, não deixa de importunar.

Não é Frida, e não se cala
Não é não!
É, queimando a si mesmo, dragão
Dragão com sono, depois da cantiga de ninar.

08.07.2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Lyllian Teles. Tecnologia do Blogger.

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *