Encarcerados - Você me ensinou a escrever

dezembro 07, 2016

Encarcerados


fragmentos - I

Queria ter inspiração para escrever e dizer algo que se prese, que se tenha gosto de ler/ouvir/saber; algo que surpreendesse e fizesse o coração pular de emoção. Mas, o que um coração vazio pode despertar em outro coração se nem ele mesmo ainda vive para sentir?
Não sinto nada, a minha dor é como a anestesia regional, você sente a dormência causada por seu efeito, sabe que ela está ali (foi aplicada), mas não sente as outras sensações. É como, por exemplo, algo que tu carregas todo dia, e mesmo que haja um incômodo cotidiano, tu tens que seguir assim mesmo, com sua perna que precisa para andar, mesmo que andar, para tu, cause um pouco de desconforto. E eu explico muito mal, não é? Incrível.
Uma vontade imensa de chorar ao som de Atom Heart Mother.... Essa música também inexplicável, que jamais compreenderei o turbilhão de emoções que tal me causa. Até pausar é, pra mim, um pecado mortal. Obrigada mais uma vez, Pink Floyd. E.… acabei de pausar, droga! Vida em sociedade é assim, por isso gosto de ouvi-la sempre em meditação; posso contemplar sua beleza junto a grandeza do universo, junto a grandeza do meu Eu... tão escondido, tão magoado.
Eu nem deveria estar aqui a escrever besteiras, e sim cuidado da minha correria. Ah, correria, como eu desejaria não ter de passar por você..., mas, faz parte. Como a dor também compõe o Amor, como o sofrimento compõe também a vida, e como a liberdade compõe a morte. A vontade de escrever vem do não poder me pôr a falar, pra todos ou qualquer um, da minha súplica, aquela que nem sempre está adormecida, como anteontem, da qual nem me recordava, mas hoje me tomou de súbito. Ando encontrando dentro de mim muita repulsa. Misantropia, quem sabe? São os humanos...
Ao mesmo tempo em que canto “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”, penso no quanto alguns de nós estamos condenados a assim permanecer, se for lembrar do quão egoístas e desprezíveis nos tornamos, o quanto ninguém se importa... Havia, por muito tempo, pensado que a única maneira de viver melhor, em conjunto com os outros, fosse sempre dizer o que sente; pensa; apontar suas opiniões, críticas, dividir pensamentos e ideias... Claro, não se entregar a qualquer um, como dá-se uma espada para que lhe ataquem, mas compartilhar, explicar e o mais essencial de tudo, ouvir para compreender, se colocar no lugar do outro... Assim poderia chegar a uma convivência um tanto mais digna, e diante de tanta sensibilidade sujeita ás complicações sociais, seria até mais saudável esse entendimento. Ah! Doce ilusão! Agora eu consigo entender, por experiência própria, o quanto isto se torna, a cada dia que passa, mais distante, inalcançável.
Os humanos não se entendem, caramba! Sim, estamos aqui, porque sim, somos obrigados, por alguma força estranha.... Chegamos aonde chegamos, e até concordamos em alguns detalhes; entramos em sintonia em outros, por vezes, até parece bonito..., porém, para pra analisar o que cada um reprime de si, o quanto sozinho és em meio a tanta confusão, o quanto gritas por dentro enquanto se mantém em silêncio, o quanto choras ao ouvir os gritos abafados do mundo que o cerca. Ninguém ouve ninguém, ninguém liga. Ou por estar muito encarcerado em sua própria dor e agonia, ou por estar tomado pela correria, ou por simplesmente não querer ouvir. No pior das situações, o outro não está interessado em ouvir mesmo! E quem pode culpa-los? Triste, mas eis a verdade.
Parte da minha dor, lembrei da anestesia (comfortably numb?), é por esse sentimento misantropo, deprimente, corroído pelo “não se importar”, afogado num poço que não está nada limpo, esquecido por todos; onde não há mais amor, só decepção, onde a admiração e a emoção há muito esquecidas... encontram-se tão longínquas quanto o amor que recentemente morreu. Agora, o que resta é nada além de você mesmo e a eterna beleza de um mundo solitário, escritas numas míseras folhas de papel.

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