fragmentos - I
Queria ter
inspiração para escrever e dizer algo que se prese, que se tenha gosto de
ler/ouvir/saber; algo que surpreendesse e fizesse o coração pular de emoção.
Mas, o que um coração vazio pode despertar em outro coração se nem ele mesmo
ainda vive para sentir?
Não sinto nada, a
minha dor é como a anestesia regional, você sente a dormência causada por seu
efeito, sabe que ela está ali (foi aplicada), mas não sente as outras
sensações. É como, por exemplo, algo que tu carregas todo dia, e mesmo que haja
um incômodo cotidiano, tu tens que seguir assim mesmo, com sua perna que
precisa para andar, mesmo que andar, para tu, cause um pouco de desconforto. E
eu explico muito mal, não é? Incrível.
Uma vontade
imensa de chorar ao som de Atom Heart Mother.... Essa música também
inexplicável, que jamais compreenderei o turbilhão de emoções que tal me causa.
Até pausar é, pra mim, um pecado mortal. Obrigada mais uma vez, Pink Floyd. E.…
acabei de pausar, droga! Vida em sociedade é assim, por isso gosto de ouvi-la
sempre em meditação; posso contemplar sua beleza junto a grandeza do universo,
junto a grandeza do meu Eu... tão escondido, tão magoado.
Eu nem deveria
estar aqui a escrever besteiras, e sim cuidado da minha correria. Ah, correria,
como eu desejaria não ter de passar por você..., mas, faz parte. Como a dor
também compõe o Amor, como o sofrimento compõe também a vida, e como a
liberdade compõe a morte. A vontade de escrever vem do não poder me pôr a
falar, pra todos ou qualquer um, da minha súplica, aquela que nem sempre está
adormecida, como anteontem, da qual nem me recordava, mas hoje me tomou de
súbito. Ando encontrando dentro de mim muita repulsa. Misantropia, quem sabe?
São os humanos...
Ao mesmo tempo em
que canto “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”, penso
no quanto alguns de nós estamos condenados a assim permanecer, se for lembrar
do quão egoístas e desprezíveis nos tornamos, o quanto ninguém se importa...
Havia, por muito tempo, pensado que a única maneira de viver melhor, em
conjunto com os outros, fosse sempre dizer o que sente; pensa; apontar suas
opiniões, críticas, dividir pensamentos e ideias... Claro, não se entregar a
qualquer um, como dá-se uma espada para que lhe ataquem, mas compartilhar, explicar
e o mais essencial de tudo, ouvir para compreender, se colocar no lugar do
outro... Assim poderia chegar a uma convivência um tanto mais digna, e diante
de tanta sensibilidade sujeita ás complicações sociais, seria até mais saudável
esse entendimento. Ah! Doce ilusão! Agora eu consigo entender, por experiência
própria, o quanto isto se torna, a cada dia que passa, mais distante,
inalcançável.
Os humanos não se
entendem, caramba! Sim, estamos aqui, porque sim, somos obrigados, por alguma
força estranha.... Chegamos aonde chegamos, e até concordamos em alguns
detalhes; entramos em sintonia em outros, por vezes, até parece bonito...,
porém, para pra analisar o que cada um reprime de si, o quanto sozinho és em
meio a tanta confusão, o quanto gritas por dentro enquanto se mantém em
silêncio, o quanto choras ao ouvir os gritos abafados do mundo que o cerca.
Ninguém ouve ninguém, ninguém liga. Ou por estar muito encarcerado em sua
própria dor e agonia, ou por estar tomado pela correria, ou por simplesmente não
querer ouvir. No pior das situações, o outro não está interessado em ouvir
mesmo! E quem pode culpa-los? Triste, mas eis a verdade.
Parte da minha
dor, lembrei da anestesia (comfortably numb?), é por esse sentimento
misantropo, deprimente, corroído pelo “não se importar”, afogado num poço que
não está nada limpo, esquecido por todos; onde não há mais amor, só decepção,
onde a admiração e a emoção há muito esquecidas... encontram-se tão longínquas
quanto o amor que recentemente morreu. Agora, o que resta é nada além de você
mesmo e a eterna beleza de um mundo solitário, escritas numas míseras folhas de
papel.
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