A sede de existir - II - Você me ensinou a escrever

janeiro 19, 2017

A sede de existir - II


Acho que foi ontem, após os estragos da noite que reconstruíram moradas, consegui enfim, visualizar a mim mesma. Um caminho preciso se abriu, e nele como num oráculo, estava escrita as palavras de Nietzsche e de todos Hermes: "Torna-te quem tu és". Dentro do teatro mágico do meu ser mil portas espelhadas se abriram e vi todo o mal e dor que me consumiram por tanto tempo. E eles tem um nome. A tal 'sede de existir'. Podem dizer que eu sou louca, pois sei que por cem mil vezes amaldiçoei a vida e a angústia que me movimenta, gritei dos céus aos infernos o quanto é inaceitável essa obrigação voluntária... Eu sei! Mas, ontem... Encontrei a resposta que falava e girava a maçaneta incessante do meu coração pra sair correndo e gritar liberdade; percebi que não só sei de todo o mal e toda a carga que carrego por estar viva. O impressionante foi notar com muito mais clareza um amor tão forte por essa carga que por vezes torna-se doentio. Isso é mesmo possível? Odiar a vida que se vive e se ama, porque é como se ela fosse insuficiente para o tanto de vida que tu tem dentro de si pra dar? Esse sentimento de impotência, ausência, impossibilidade... porque eu queria ser tudo que eu posso ser, mas é como se a vida, mesmo em sua grandiosidade, ainda fosse pequena e tão pequena que não me permitisse ser todo o inteiro que tenho dentro e fora de mim. Isso é bastante confuso, sim. Realmente devo confirmar que o coração acelerado de todos os dias mais é ansiedade de viver. A pressa não é pelo sistema ou pelo Deus Tempo, mas pela vida. Ah não, perdoem, nisso o tempo deve se incluir, esse demônio! Mesmo assim, eu os a amo, e exalto esse amor, porque sei que Tudo é o que é, e não poderia ser de outra maneira, se fosse talvez a beleza se encurtasse e se desfizesse. 
Eu os amo, e a prova mais fatal desse amor é o tamanho da minha capacidade para odiá-los. Te odiar, existência. Te condenar, e me condenar, enquanto dançamos a valsa infinita do maior show da terra. 
Quem dirá que não existe um certo quê de elegância nisto? 

13, janeiro de 2017.

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