O Sol e A Torre no Tarô de Waite |
Hoje
cedo cruzei com um texto grandiosíssimo na rede, que tinha como título “10 coisas “espirituais” que as pessoas fazem e são uma total besteira”. De
primeira, pensei que falava sobre repertórios comportamentais realmente irrelevantes
na vida das pessoas, algo que costumamos fazer e damos um significado forte e
espiritual sendo que “não é nada disso” – digamos que podem haver situações
assim, como por exemplo, o ritual de andar dentro dos quadradinhos sem pisar na
linha para que nenhum mal terrível aconteça e isso sim é uma total besteira,
mas o texto não é só sobre isso, ele fala de quando esse tipo de comportamento
pode se tornar um mal para pessoa que o pratica, configurando um comportamento
obsessivo compulsivo inconsciente – o que já não é tão besteira assim, não é?
Pois bem, é basicamente de comportamentos desse tipo que o texto postado no Awebic fala. Recomendo DEMAIS a leitura.
A
imagem acima contém duas cartas do Tarô de Waite, exemplificando o que
usualmente as pessoas entendem por “despertar da consciência”, fazendo um
paralelo com o que ela realmente é. O Sol e A Torre, respectivamente.
Ou seja, muitas das práticas espirituais descritas no texto, diga-se de
passagem – abençoado – do Awebic diz respeito a formas cotidianas “zen” e
“espirituais” de lidar com as coisas que, no que se refere à espiritualidade
verdadeira, não tem muita funcionalidade senão como mecanismo de defesa do
sujeito, além de aprisionar ainda mais o mesmo e fazê-lo girar num grande
círculo de mentiras bem contadas. Tais quais, perigosamente, acabam virando
verdade.
Eu
já queria muito comentar aqui sobre os desafios da prática espiritual. Esse
texto foi só o impulso do “agora vai”. Inclusive quando me deparei com essa
imagem, vi descrita de maneira excepcional a sua verdade – a real tomada de
consciência.
O
sol, um arquétipo que representa a ressurreição
no tarô é um símbolo poderoso de renascimento e, digamos, uma carta de
glória para aquele momento individual e subjetivo do sujeito. Onde podemos
colher os frutos de uma mudança efetiva na nossa conduta, onde podemos ter
plena convicção dos bons resultados das nossas escolhas. Enfim, uma
contemplação realística do eu. A torre, muito pelo contrário, é uma carta que
representa a queda, não é à toa que ela vem muito antes na ordem dos Arcanos
Maiores e sua mensagem é de aprendizagem.
O sujeito precisa encarar as consequências de seus atos. Na torre, a
aprendizagem acontece quase como ocorre a terapia de choque – isso pode ser
literalmente ou não, há como aprender das duas maneiras, porém nenhuma é isenta
de dor.
Assim,
quando se diz que o despertar espiritual acontece processualmente como
simboliza a torre, não é que ele se encerre nela, CLARO que não. No entanto,
ele só ocorre POR CAUSA dela. Um indivíduo que não consegue encarar o próprio
lado sombrio e os fatos à sua volta jamais poderá crescer espiritualmente,
porque crescer espiritualmente diz respeito a respeitar a sua verdade interior
e divina, não se esconder atrás de mentiras confortáveis. Bem como no texto
fala... Muitas das práticas adotadas como espirituais prendem as pessoas em
atitudes como “positividade exacerbada” – tal qual ignora contingências
aversivas e diminui o discernimento –, um comportamento contínuo de “deboísmo”
irreal e megalomania para com assuntos diversos. Pessoas começam a se sentir
superiores por considerar-se mais “iluminadas” que outras sendo que não foram
sequer capazes de enfrentar os próprios medos, erros e imperfeições. Bem como
também, talvez o mais sério dos problemas – a repressão de tudo que é aversivo
para a pessoa.
Tudo
isso vai de encontro ao que é verdadeiramente uma prática espiritual. Então,
mesmo que você medite todos os dias, seja super zen, não expresse sua raiva,
sua insatisfação com aspectos do seu eu, isso não significa que você não sinta
raiva, não seja insatisfeito com você mesmo. Estar consciente de si é o
principal. Só estando consciente de si mesmo, dos próprios demônios, é que se
torna possível enfrentá-los. Mesmo que você use cristais, faça acupuntura, etc.
isso não significa nada. Significa apenas o que você faz consigo mesmo além de
tudo isso. Essas práticas podem servir apenas como tática de repressão daquilo
que você não quer ver. E “não ver” para quem pretende evoluir espiritualmente,
não é uma opção.
O
sol, só é atingido então, pelo alcance da própria luz, e não pela escuridão.
Isso já deve ser óbvio para a maioria. O que devemos esclarecer é, no entanto,
as práticas verdadeiras de alcance da luz real, e não da luz inventada. Qual a
minha recomendação? Sem mais delongas: assumir-se ser humano em movimento.
Mensagem: A Força
é um arcano central do tarô. Representa a capacidade de admitir a dualidade
existente entre bem e o mal e o domínio de ambos dentro de uma unidade. A força
é representada num arquétipo de uma mulher que domina fácil e serenamente um
leão. Diga-se de passagem, que esta não a mata, não o segrega, o admite e o
domina.
Muitas
pessoas já devem ter visto Star Wars,
mas poucos tratam da obra como um produto de um sentimento que é universal,
apenas veem como uma mera ficção. Mas esta não se resume apenas a isso. E por
que eu escolhi Star Wars para falar de algo tão sério e profundo como o tarô?
Vamos lá!
A
mensagem da Força, no tarô, pode ser exemplificada em termos bem práticos pela ficção
científica Star Wars (Guerra nas Estrelas). Star Wars é uma guerra que acontece
no espaço. Sith’s e Jedi’s estão em uma constante briga entre si, sendo que, o
objetivo final é chegar ao equilíbrio. Algo que não fica claro nos filmes é,
especificamente, que NÃO são os Jedi’s que trarão esse equilíbrio, muito menos
o fim dos Sith’s e a destruição de um pelo outro. Não é à toa que isso nunca
foi possível, sequer demonstrado. Alguns quadrinhos como “O alvorecer dos Jedi” mostram de maneira mais fiel essa ideia. O
equilíbrio não é a aniquilação de um lado ou de outro. É o matrimônio de ambos.
A renúncia Jedi e a paixão dos Sith’s. Ao longo da obra vamos vendo o que leva
a repressão do medo (vide o suplício de Anakin) e também o exagero da paixão
exacerbada.
Não
é difícil fazer a relação entre o Arcano da Força e o dilema que ocorre em Star
Wars, porque o central na ficção é justamente o poder da Força, e ela não trata
apenas de um poder sobrenatural de alienígenas. Pessoas comuns fazem parte da “guerra
nas estrelas”. Um velho cientista muito aclamado socialmente, nosso querido Carl
Sagan, já nos falou sobre o quanto de estrelas temos nós. O quanto que de
estrela somos. Ou seja, a guerra intergaláctica não é só uma significação da
conquista do espaço, mas sim, também e principalmente, a conquista do espelho.
Que trata de uma guerra que acontece no interior do ser humano – todo homem e toda mulher que é uma estrela. A guerra entre “bem” e “mal”.
Sith’s
e Jedi’s, então, vivem uma constante luta. Só então no VII filme que podemos
ver A força mais claramente, aliás, como é que Rey consegue adquiri-la sem
nenhum treinamento?
Se
trata do poder da vontade, da autoconfiança, e do domínio do medo. O
autocontrole no que se refere à consciência. A força estará sempre conosco, então.
Sempre que formos capazes de acreditar nela.
Mais
alguma dúvida sobre a predominância e existência enérgica dos arquétipos? Jung
explica.
“Todas as ideias mais poderosas da história voltam para
arquétipos. Isto é particularmente verdadeiro em ideias religiosas, mas os
conceitos centrais da ciência, filosofia e ética não são exceção a esta regra.
Na sua forma atual, eles são variantes de ideias arquetípicas criadas por conscientemente
aplicar e adaptar estas ideias à realidade. É a função da consciência, não
só reconhecer e assimilar o mundo externo através do portal dos sentidos,
mas traduzir em realidade visível o mundo dentro de nós “. – A natureza da
psique – Jung.
Referências: http://www.clubedotaro.com.br/site/m32_11_forca.asp
Espiritualidade
e Transcendência: Seleção e Edição de Brigitte Dorst - C. G. Jung. Ed. Vozes;
Edição 1; 2015. Brasil.
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