A prática espiritual - Você me ensinou a escrever

abril 23, 2018

A prática espiritual

O Sol e A Torre no Tarô de Waite


Hoje cedo cruzei com um texto grandiosíssimo na rede, que tinha como título 10 coisas “espirituais” que as pessoas fazem e são uma total besteira”. De primeira, pensei que falava sobre repertórios comportamentais realmente irrelevantes na vida das pessoas, algo que costumamos fazer e damos um significado forte e espiritual sendo que “não é nada disso” – digamos que podem haver situações assim, como por exemplo, o ritual de andar dentro dos quadradinhos sem pisar na linha para que nenhum mal terrível aconteça e isso sim é uma total besteira, mas o texto não é só sobre isso, ele fala de quando esse tipo de comportamento pode se tornar um mal para pessoa que o pratica, configurando um comportamento obsessivo compulsivo inconsciente – o que já não é tão besteira assim, não é? Pois bem, é basicamente de comportamentos desse tipo que o texto postado no Awebic fala. Recomendo DEMAIS a leitura.
A imagem acima contém duas cartas do Tarô de Waite, exemplificando o que usualmente as pessoas entendem por “despertar da consciência”, fazendo um paralelo com o que ela realmente é. O Sol e A Torre, respectivamente. Ou seja, muitas das práticas espirituais descritas no texto, diga-se de passagem – abençoado – do Awebic diz respeito a formas cotidianas “zen” e “espirituais” de lidar com as coisas que, no que se refere à espiritualidade verdadeira, não tem muita funcionalidade senão como mecanismo de defesa do sujeito, além de aprisionar ainda mais o mesmo e fazê-lo girar num grande círculo de mentiras bem contadas. Tais quais, perigosamente, acabam virando verdade.
Eu já queria muito comentar aqui sobre os desafios da prática espiritual. Esse texto foi só o impulso do “agora vai”. Inclusive quando me deparei com essa imagem, vi descrita de maneira excepcional a sua verdade – a real tomada de consciência.
O sol, um arquétipo que representa a ressurreição no tarô é um símbolo poderoso de renascimento e, digamos, uma carta de glória para aquele momento individual e subjetivo do sujeito. Onde podemos colher os frutos de uma mudança efetiva na nossa conduta, onde podemos ter plena convicção dos bons resultados das nossas escolhas. Enfim, uma contemplação realística do eu. A torre, muito pelo contrário, é uma carta que representa a queda, não é à toa que ela vem muito antes na ordem dos Arcanos Maiores e sua mensagem é de aprendizagem. O sujeito precisa encarar as consequências de seus atos. Na torre, a aprendizagem acontece quase como ocorre a terapia de choque – isso pode ser literalmente ou não, há como aprender das duas maneiras, porém nenhuma é isenta de dor.
Assim, quando se diz que o despertar espiritual acontece processualmente como simboliza a torre, não é que ele se encerre nela, CLARO que não. No entanto, ele só ocorre POR CAUSA dela. Um indivíduo que não consegue encarar o próprio lado sombrio e os fatos à sua volta jamais poderá crescer espiritualmente, porque crescer espiritualmente diz respeito a respeitar a sua verdade interior e divina, não se esconder atrás de mentiras confortáveis. Bem como no texto fala... Muitas das práticas adotadas como espirituais prendem as pessoas em atitudes como “positividade exacerbada” – tal qual ignora contingências aversivas e diminui o discernimento –, um comportamento contínuo de “deboísmo” irreal e megalomania para com assuntos diversos. Pessoas começam a se sentir superiores por considerar-se mais “iluminadas” que outras sendo que não foram sequer capazes de enfrentar os próprios medos, erros e imperfeições. Bem como também, talvez o mais sério dos problemas – a repressão de tudo que é aversivo para a pessoa.
Tudo isso vai de encontro ao que é verdadeiramente uma prática espiritual. Então, mesmo que você medite todos os dias, seja super zen, não expresse sua raiva, sua insatisfação com aspectos do seu eu, isso não significa que você não sinta raiva, não seja insatisfeito com você mesmo. Estar consciente de si é o principal. Só estando consciente de si mesmo, dos próprios demônios, é que se torna possível enfrentá-los. Mesmo que você use cristais, faça acupuntura, etc. isso não significa nada. Significa apenas o que você faz consigo mesmo além de tudo isso. Essas práticas podem servir apenas como tática de repressão daquilo que você não quer ver. E “não ver” para quem pretende evoluir espiritualmente, não é uma opção.
O sol, só é atingido então, pelo alcance da própria luz, e não pela escuridão. Isso já deve ser óbvio para a maioria. O que devemos esclarecer é, no entanto, as práticas verdadeiras de alcance da luz real, e não da luz inventada. Qual a minha recomendação? Sem mais delongas: assumir-se ser humano em movimento.

Arcano: A força


Mensagem: A Força é um arcano central do tarô. Representa a capacidade de admitir a dualidade existente entre bem e o mal e o domínio de ambos dentro de uma unidade. A força é representada num arquétipo de uma mulher que domina fácil e serenamente um leão. Diga-se de passagem, que esta não a mata, não o segrega, o admite e o domina.
Muitas pessoas já devem ter visto Star Wars, mas poucos tratam da obra como um produto de um sentimento que é universal, apenas veem como uma mera ficção. Mas esta não se resume apenas a isso. E por que eu escolhi Star Wars para falar de algo tão sério e profundo como o tarô? Vamos lá!
A mensagem da Força, no tarô, pode ser exemplificada em termos bem práticos pela ficção científica Star Wars (Guerra nas Estrelas). Star Wars é uma guerra que acontece no espaço. Sith’s e Jedi’s estão em uma constante briga entre si, sendo que, o objetivo final é chegar ao equilíbrio. Algo que não fica claro nos filmes é, especificamente, que NÃO são os Jedi’s que trarão esse equilíbrio, muito menos o fim dos Sith’s e a destruição de um pelo outro. Não é à toa que isso nunca foi possível, sequer demonstrado. Alguns quadrinhos como “O alvorecer dos Jedi” mostram de maneira mais fiel essa ideia. O equilíbrio não é a aniquilação de um lado ou de outro. É o matrimônio de ambos. A renúncia Jedi e a paixão dos Sith’s. Ao longo da obra vamos vendo o que leva a repressão do medo (vide o suplício de Anakin) e também o exagero da paixão exacerbada.
Não é difícil fazer a relação entre o Arcano da Força e o dilema que ocorre em Star Wars, porque o central na ficção é justamente o poder da Força, e ela não trata apenas de um poder sobrenatural de alienígenas. Pessoas comuns fazem parte da “guerra nas estrelas”. Um velho cientista muito aclamado socialmente, nosso querido Carl Sagan, já nos falou sobre o quanto de estrelas temos nós. O quanto que de estrela somos. Ou seja, a guerra intergaláctica não é só uma significação da conquista do espaço, mas sim, também e principalmente, a conquista do espelho. Que trata de uma guerra que acontece no interior do ser humano – todo homem e toda mulher que é uma estrela. A guerra entre “bem” e “mal”.
Sith’s e Jedi’s, então, vivem uma constante luta. Só então no VII filme que podemos ver A força mais claramente, aliás, como é que Rey consegue adquiri-la sem nenhum treinamento?
Se trata do poder da vontade, da autoconfiança, e do domínio do medo. O autocontrole no que se refere à consciência. A força estará sempre conosco, então. Sempre que formos capazes de acreditar nela.
Mais alguma dúvida sobre a predominância e existência enérgica dos arquétipos? Jung explica.

“Todas as ideias mais poderosas da história voltam para arquétipos. Isto é particularmente verdadeiro em ideias religiosas, mas os conceitos centrais da ciência, filosofia e ética não são exceção a esta regra. Na sua forma atual, eles são variantes de ideias arquetípicas criadas por conscientemente aplicar e adaptar estas ideias à realidade. É a função da consciência, não só reconhecer e assimilar o mundo externo através do portal dos sentidos, mas traduzir em realidade visível o mundo dentro de nós “. – A natureza da psique – Jung.


Espiritualidade e Transcendência: Seleção e Edição de Brigitte Dorst - C. G. Jung. Ed. Vozes; Edição 1; 2015. Brasil.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores

Lyllian Teles. Tecnologia do Blogger.

Contato

Nome

E-mail *

Mensagem *