I
É pra viver
mesmo. Como a recente alucinação rica em doces eróticos. Um braço envolto na
cintura, o colchão, o chão cheio de uma poeira tardia de amor calado, de amor
jorrado, de desejo saciado, então.
É pra viver
mesmo, Maria. Viva como a agonia da euforia de viver assim, no instante já que
te sacia, já que te inebria, que te dilui, em tantas partes que o todo não pode
partilhar sem crer.
É pra viver
mesmo, como o álcool que consome sua consciência. É só então (in)consciente tu
podes entender o que significa enfim, viver. Viver assim, onde nada mais
importa que não o sorriso bem quisto e o bom dia tardio. O amor, o amor de
alecrim.
O bandolim já
parou de tocar... mas, a roda da saia continua a dançar, pois que sufoca se não
dança, se não expressa a supressão dessa flor jasmim...
É bonito, anjo
querubim. É bonito. Como a cor da lua, nua e crua, invadindo o céu.
O leite
derramado, o sol, o azul, o breu.
É, inclusive, o
fim, Orfeu.
II
O tudo e até o
nada têm muito a dizer
Do quanto dói
Ama, perdura,
acaba, e não deixa...
Constrói.
Eu amo o que
destrói
Toda força da
harmonia
Reforça a
contradição
Cai no colchão,
sem racionalização
Sem tempo
Sem neuras
Sem alucinação
Já que alucina
mais a própria ação.
O próprio ato,
de viver.
De querer, de
ter
Cada gesto
incerto
E certo por si
só.
Eu sinto a máfia
de estar só
E estar com
todos os outros, em concomitância
Eu guardo a
lembrança de amores vazios
E frios
Eu vivo a ilusão
de um amor sem fim
Em vivo em mim e
sem mim
Eu vivo assim.
Por viver.
Vivo de querer
amores inteiros
E passageiros
Vivo de quereres
ligeiros
E lentos
gostares.
E futuros gozos.
E dorminhocos
amores.
Eu sinto tantas
dores
Que já nem sei
contar.
Quero mais é
gozar
Dos seus
temores.
Quero me
infiltrar em seus
Mais fortes
ardores...
Quero me acabar.
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