Sono Suculenta - Você me ensinou a escrever

setembro 21, 2017

Sono Suculenta


Acabado de deitar minhas costas sobre a cabeceira da cama achando não ter mais forças nenhuma. Meus olhos deitam, nus de sono, sem disfarce algum, mas a folha em branco chama, queima como que esperando pelas cinzas derramadas da minha alma. Corpo alarmante!
Foi um dia difícil, como tantos outros, e daí no final do dia, será que sobra tempo para saber o que se passa com você?
O café da manhã, e o almoço que nunca ficou pronto na hora, a aula atrasada, os estudos aprofundados aguardando seu retorno. Sua mãe preocupada, seu vizinho aperriado, sua amiga pedindo atenção. Ahh! Será que é fácil sobreviver a essa exacerbação de expectativas sobre você?
É porque não dá mesmo pra ir àquele bar amanhã, minha agenda tá lotada, minha vida monótona trancafiada numa cela de prisão.
Mas que cela, menino? Só se for aquela chamada resistência à satisfação. Bem como essa que tu sente ao terminar de comer o pão e quando a pia da cozinha fica limpa. A gente tende a transfigurar os feitiches com o tempo, tardio.
E a gente anda rápido, feito cego, feito gente que vê demais e gente que finge que não vê, mas a prisão quem cria somos eu e você.
Pois, quem disse que não resta uma horinha para escrever?
Ah, se resta, e vem de sobra dando sopa pra comer.
Só sei do prazer que vi ao sentir as flores e os mosquitos beijando minhas pernas brancas e maciças. Os sorrisos ondulados e o campo minado de doces e amargas paixões.
Sei que o céu nasceu menos azul hoje, e a casa, mesmo suja, limpou e libertou minha alma de uma inércia sem um pingo de luz.
Soube então, que a força no coração do homem nem sempre e mesmo hoje, não se perdeu.
Gostaria que meu corpo pudesse responder à altura da amplitude que eu sinto, amplitude essa incalculada pela diferença entre o maior e o menor de mim.
Eu quero o gozar sem fim, como a mulher que morreu com o peso do hedonismo nas costas. Ela não faleceu, viveu.
Morreu como quem dita a história, a realeza, enfim, o contrário do mito de Orfeu.
Orfeu esse que nunca sai da minha pronúncia nem que queira, visto que é besta espiritual e domador dos meus sonhos mais macabros,
e o que imorta é que não se esconda o jogo, e que se tire o touro da jogada.
Tudo mudou quando me mudei de casa. Vesti novas roupas, e trajes inalcançáveis. Alcancei o incalculável.
Chega assusta, minha gente...
Vivo esperando o jantar que não sai se minha mão não se mexer. E espero, fazendo acontecer.
Trabalhando no meu manto santo, trabalhando por trabalhar. Me indagando sobre a existência enquanto danço e enquanto passo o pano e a roupa de usar no dia seguinte.
Enquanto lavo a roupa suja e medito sobre essa livre consciência tardia e associada ao inconsciente.
Vivo o momento presente, enquanto pondero sobre o futuro, que é já, é mesmo agora meu corpo ainda cansa de raciocinar, fazer as contas de quanto vale uma vida de sossego, chamêgo esse meu e teu.

De quanto vale uma vida dentro do seu próprio lar.

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